Apresentação
Apresentação

As inflexões que a História vem tomando nos últimos anos, sobretudo nas direções da cultura, têm revelado, antes que novos campos ou soluções satisfatórias, evidentes lacunas. Não é possível improvisar um historiador da cultura – e, mais particularmente no interior dela, um historiador das imagens – com uma conversão e com a leitura de alguns livros teóricos. É preciso tempo, sedimentação, contacto constante, amoroso, respeitoso, com o objeto a ser desvendado. Objeto que, à medida que o estudo avança, revela-se paradoxalmente sujeito, e passa a guiar, melhor que qualquer teoria ou método prévio, o historiador sincero.

Este é justamente um livro de grandes qualidades porque nascido de fortes e antigos afetos ligando seu autor à fotografia, cuja decifração não parte de uma postura demonstrativa tomada a priori, mas que nasce aos poucos, do olhar insistente. Suas qualidades já saltam aos olhos no primeiro folhear: basta perceber a qualidade da seleção feita sobre as imagens, que vão se completando e estimulando o desejo de compreender as ligações silenciosas mantidas entre si.

Temos aqui dois grandes méritos, entre outros. Primeiro, o livro nos faz descobrir muito sobre o universo mental constitucionalista de 1932, acrescentando importantes novidades ao nosso conhecimento do período. Segundo, ele nos faz aprender um modo, dentre os melhores, de fazer a História. Isto é, não creio que sua leitura ofereça a qualquer um a receita que permitirá aplicar os mesmos instrumentos a outros objetos. Melhor do que isso, ele mostra-se um exemplo daquele essencial que não pode ser ensinado: as intuições analíticas, os achados sintéticos, tornados possíveis pela familiaridade com o universo fotográfico, desde o ponto de vista técnico até as significações das imagens.

O autor escora-se em bibliografia ampla e em numerosas citações, o que denota, sem dúvida, um espírito de rigor. Mas ele, em verdade, não precisaria destes apoios. É sua inteligência afetiva que traz o novo e desperta o interesse, chegando a uma inédita percepção do tema tratado.

Jorge Coli

Dep. De História – IFCH – Unicamp