Como toda guerra, a de 1932 também criou sua própria mitologia. Os mitos nascidos no calor da luta dificultaram a compreensão da multiplicidade do processo. Tanto a versão ditatorial como a constitucionalista perduram até hoje vivas naquilo que conhecemos como memória coletiva. Ambos os discursos foram largamente utilizados desde as primeiras horas do conflito, até mais recentemente, em artigos publicados pelos meios de comunicação.
Tais conceitos, no entanto, têm sido retomados e severamente revisados por alguns historiadores brasileiros e brasilianistas desde o final da década de 1970. Paradoxalmente, a chamada Revolução de 32 - interpretada por muitos como um marco de nossa história republicana - permanece como um dos episódios menos conhecidos da história recente do Brasil. Tanto a análise das causas que levaram à guerra, como o entendimento de suas conseqüências na sociedade, ainda persistem polêmicos e controvertidos, independente de críticas e revisões historiográficas.
Felizmente alguns dados explicativos sobre o acontecimento podem ser considerados consensuais. Em grande parte, o movimento de 1932 foi gerado pelos inevitáveis desdobramentos do amálgama de interesses que fundia momentaneamente os múltiplos e contraditórios projetos da revolução liberal de outubro de 1930.
A cisão militar no interior das forças armadas brasileiras, a dissidência política no seio da Aliança Liberal que detinha o poder no país; a grande adesão social com voluntários civis e o suporte logístico fornecido pela população; bem como, o fundamental apoio econômico dos setores produtivos (industriais e operariado), forneceriam aos trágicos eventos que se seguiram, todas as características de uma guerra civil.
Tiveram a duração de oitenta e cinco dias (de 09 de julho a 02 de outubro de 1932). Geograficamente se desenvolveram, sobretudo, nos estados de São Paulo e Mato Grosso (norte e sul). Também ocorreram alguns episódios isolados no Rio Grande do Sul, Paraná, Minas Gerais, Distrito Federal, Rio de Janeiro, Bahia, Pará e Amazonas.
A guerra civil de 1932 assumiu em muitas ocasiões o aspecto de uma luta encarniçada e selvagem. Ódios, paixões e ideais inspiravam os dois lados a lançarem mão de quaisquer recursos para abater o adversário. O número de mortos em combate, somente do lado paulista, somou cerca de oitocentos e trinta soldados, quase o dobro dos pracinhas da Força Expedicionária Brasileira que perderam a vida nos campos da Itália durante a Segunda Guerra Mundial.